Raphael Domingues



RAPHAEL DOMINGUES

Nasceu em 1913, no estado de São Paulo, sendo o primogênito de quatro irmãos. Pai de nacionalidade espanhola, escultor, dedicava-se a construção de monumentos fúnebres. Sua mãe descreve-o como um menino tímido, sensível e retraído. Quando o pai abandonou a família, Raphael, para ajudar no sustento dos irmãos mais novos, foi trabalhar como ajudante na fabricação de gaiolas para pássaros. Aos 13 anos ingressou no Liceu Literário Português, onde estudou Desenho Acadêmico. Trabalhou como desenhista em escritórios particulares, chegando a ganhar um prêmio em concurso da Standart Oil Company.


        

Os primeiros sintomas da doença manifestaram-se quando ele tinha 15 anos. Um caso grave. Aos dezenove anos de idade foi internado no hospital da Praia Vermelha.

Transferido para o Centro Psiquiátrico Pedro II, desenha garatujas nas paredes da enfermaria. Por este motivo, o psiquiatra sob os cuidados de quem se achava, encaminha-o para o ateliê da Seção de Terapêutica Ocupacional. 



Fator fundamental na sua história foi a presença do artista Almir Mavignier , na ocasião monitor do ateliê de pintura. Ele encontrou apoio afetivo e estímulo em Almir, sempre ao seu lado durante suas atividades, mas sem nunca pretender influenciá-lo.

Um dia, contrariando a regra de não-intervenção na produção plástica dos freqüentadores do ateliê, um funcionário da secretaria entrou por acaso na sala e, vendo os abstratos de Raphael, disse-lhe: "Raphael, pinte uma cara." Raphael desenhou uma cara. A seguir, o funcionário disse: "Agora pinte um burrinho".


       

Esse fato insólito marcou o início de uma nova fase no seu desenho. A partir daí, sem etapas de transição, num salto espantoso, surgem traços mágicos que virão configurar desenhos da mais alta qualidade em seus trabalhos. Quando termina seu desenho, Raphael quase sempre os recobre com suas habituais linhas entrecruzadas, obrigando os monitores a retirá-los dando uma nova folha de papel.

Desenhava rapidamente com linhas que muitas vezes reproduziam gestos que fazia fora do papel.


O prazer de desenhar num ambiente onde era tratado como pessoa querida despertou em Raphael insuspeitadas manifestações de força criadora. Seus desenhos atingiram alta qualidade artística, reconhecida por críticos de arte como Leon Degand, Sérgio Milliet, Mário Pedrosa, Flávio de Aquino e outros.

Mas Mavignier partiu para a Europa. O novo monitor, apesar de seus esforços, não conseguiu atrair Raphael. Ele entra em declínio. Seu desenho reduz-se a pequenos traços repetidos.

Participou de diversas exposições coletivas e individuais, no Brasil e no exterior. Desenhou no ateliê de pintura até julho de 1979, morrendo em novembro do mesmo ano.




RAPHAEL DOMINGUES - Sobrevivente da força criadora
(link para o filme)